sexta-feira, 10 de maio de 2013

quando um certo alguém...


Faz tempo que não escrevo e também há tempos não me sentia tão positiva em relação a minha soropositividade... explico: há vários posts venho tentando me convencer que o silêncio é a resposta que procuro, no entanto, já que tenho um blog:  me comunico...não só por ele mas pelo meu coração...que as vezes salta pela boca....

Chegou o Carnaval, e com ele as campanhas para usar camisinha... Me explica que diferença faz? O carnaval é a festa da carne, as pessoas bebem muito e logo, acabam mais soltinhas e daí..transam mais?
Ok.  Outro dia vi um documentário sobre grupos de risco e HIV e ficou tão claro, que o preconceito
elege mas a realidade é tão mais velada, tão mais "careta".Será que as pessoas ainda não entenderam que as "profissionais dos sexo", os "gays" e os " atores de filme pornô" usam camisinha? Sabe por quê? Porque estão super cientes dos riscos, e muitas vezes o ganha pão está no sexo, logo, se cuidam para manter a vida ativa.  Hoje o risco está no casal que se "ama" e por isso para de usar camisinha, no hetero machista que a camisinha aperta, na mocinha que quer sentir a pele...ou seja, na turma que está simplesmente ignorando os riscos!!!

Bom,voltado a minha história... há algum tempo eu estava tentando me resolver sexualmente com meu novo amiguinho ( o HIV). Comecei a buscar sexo casual, a buscar pessoas a margem da sociedade... qualquer coisa que blindasse meu coração ( tolinha!) ... Achava mesmo, que nunca mais poderia ser quem sempre fui nas minhas relações: muito, muito sincera, muito transparente.Por um lado, o dogma do preconceito, por outro a culpa de " colocar" alguém em risco.... Percebe que nem eu tinha deixado o MEU PRECONCEITO de lado?

Pois bem, meu carnaval foi animado, passei no Rio de Janeiro com tudo que tive direito: blocos, bailes, avenida, uou...E daí que pintou um moço ( que eu na verdade já conhecia por muitos anos) e começamos a viver um " romance de carnaval".... Dito isso, fica claro, que o " romance de carnaval" se encaixa no " sexo casual"... uffa! Alívio.... Embora desde o início o moço insistisse em não usar a tal da camisinha, bati o pé e aproveitamos (e muito) com segurança...Mas tudo muito leve, muito solto como manda a cartilha do carnaval....

Só que este coração já não bate, apanha...e adivinha o quê? Me apaixonei, de uma forma que há anos não me apaixonava...e para minha surpresa...o romance se estendeu pós carnaval... E agora, José?

Minha cabeça a mil! Eu tinha vontade de afasta-lo de mim, mas não conseguia, seguia apaixonada e o pior (? ) sendo correspondida...resolvemos nos encontrar na semana seguinte....MUITA SAUDADE....logo, uma transa ANIMAL e claro, no final o papo de liquidificador  (obrigada Cazuza pela melhor expressão de todos os tempos)..."pô gata, queria transar com você sem camisinha, sentir você..."

Buaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, chorei feito criança, corri para o banheiro, no banho, não sabia de onde saia mais água, do chuveiro ou dos meus olhos....parecia que havia levado uma facada no peito e a promessa do não contar já já seria quebrada, pois, como explicar aquela minha reação? Enfim, dando como um ponto final a relação, contei, deitada no ombro dele...........

Juro, esperava que me xingasse, que me odiaria, que teria aquilo como uma quebra de confiança, confesso, que tive medo até de uma reação mais violenta...(não por ele, mas pelo meu histórico), MAS PARA MINHA SURPRESA : ele viu meu desespero e medo de perdê-lo, e embora tenha ficado preocupado (obvio!), a atitude foi de Homem com H maiúsculo e principalmente, de alguém que realmente olhou para mim...CLAP! CLAP! CLAP!!!...Enfim mostrei o blog, falei que estava aqui, o porquê, o como e o quando... e fomos dar uma volta.

Escrevi para meus 2 médicos, perguntando que providência tomar...as respostas me fizeram inclusive entender quem iria ser o meu médico a partir dali, não por nada, mas por tudo: você quer alguém que te dê segurança, e não laudos e hipóteses. Ele queria se testar e entender que risco havia corrido...

Claro, que na cabeça dele passou um filme de todas as vezes que eu o protegi, mas o medo sempre é maior. Fomos dar uma volta, e na volta a casa, fizemos amor,  e para mim, isto foi amor de verdade.

A novela continuou no dia seguinte, por sorte consegui falar com meu médico que indicou o DST ( mais para nos tranquilizar do que por achar que algo havia acontecido)... Mas marinheiro de primeira viagem....  por desespero e despreparo fomos ao Emílio Ribas...socorro! Uma médica plantonista se mostrou a figura  do descaso do descaso do descaso...

"Olha, o sr toma estes remédios aqui... "
" Mas Dra se tomar eu não pego?"
" Olha, não tem nada provado mas o ministério manda passar estes remédios"
" e o exame? qual risco eu corro?"
"olha, vou marcar aqui na agenda pro sr ....ahnnn, daqui a 10 dias uma consulta e lá o sr pergunta,tá? "Aqui é uma emergência, tenho que dar isso pro sr e o sr me dá licença que tenho outros pacientes a atender"

Sem contar que o consultório estava  quase caindo aos pedaços, triste, triste mesmo...Ele ficou desolado, ainda passamos umas duas horas meio atônitos e eu, tive que ir embora....As horas que se passam acho que foram as horas mais longas da minha vida... Ele iria consultar um Centro especializado (http://www.saude.sp.gov.br/centro-de-referencia-e-treinamento-dstaids-sp/)  no dia seguinte e a médica faria um teste rápido e nos deixaria tranquilos: o resultado foi negativo e os riscos eram mínimos.

Nem preciso dizer que este episódio foi um marco na minha vida, o romance continuou, mas como tudo, um dia pode acabar, o que não vai acabar nunca é a certeza que "pode dar certo" e que " eu não sou uma arma letal"(expressão de uma amiga querida que é ótima para descrever como me sentia) e isto vale a todos que tem HIV: o pior preconceito é o nosso!








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