terça-feira, 20 de agosto de 2013

A resposta que você procura as vezes está no silêncio que você não faz.

No meu último post eu estava com medo, muito medo...triste, muito triste....

Sei lá, será realmente que a vida me trouxe tudo junto? Ou será que tornamos a bola de neve maior quando a empurramos com a barriga?

Acho que este foi  o meu caso.

Há dois meses comecei a tomar os retrovirais (efeitos colaterais? Sim! Um enjôo absurdo) e também uma apatia e tristeza começaram a tomar conta de mim...Efeito dos remédios? Não era característico.

Tive que parar de beber mesmo socialmente, prestar atençnao no sono e na alimentação... Daí  me fechei no casulo, achei mais fácil me afastar dos amigos.... não de todos (não conseguiria!) : uma amiga querida me " sacou numa festa" e daí : me deu casa, comida e roupa lavada por um mês e muito muito amor. Outra me deu bronca : " e aí decidiu?  vai querer viver ou vai ficar assim, se sentindo coitada?" (Adoro a forma que ela ama! rsrsrs)  Mantive uma pequena roda de amigos em contato, e quando me deparei, só estava me relacionando com os amigos que eu havia contado sobre o HIV....

No último mês perdi 10% do meu peso e quando fui fazer os exames: carga viral quase indetectável uouuuuuuu .....................................................................mas o CD4 ainda baixinho.... Cacete! !!!!!!! Por quê???????????????????????????????????????????Eu vou morreerrrrrrr!
Justo eu?  Eu estava fazendo tudo tão certinho!!! Parei de fumar, beber, comendo direito, dormido bem, frequentado meu templo religioso, andava todos os dias.....Juro, me senti uma fracassada.

Estava me sentindo traída (ainda tentando entander o por quê uma uma amiga contou para mais 4 amigas, ou outro amigo que contou para mais 2 no mínimo...),outra amiga do trabalho teria expalhado?...Enfim, comecei a me sentir exposta, e o pior: pela boca alheia e sei lá de que forma!
Atenção, mesmo com carinho, o preconceito se transveste de preocupação (ou tem gente que simplesmente não conseguir lidar com os próprios problemas e prefere o dos outros... sei lá! )
Ema ema ema....mas acho engraçado que os que mais contam para outros são os que menos te perguntam sobre o assunto (fica a dica!).

Enfim, há 5 dias atrás descobri que estava com duas úlceras no esôfago, e claro, com cd4 baixo,  minha médica na hora me internou. Fiquei super assustada. Internada? Eu? Mas eu nunca fui internada na vida!
Pois, queridos leitores,  nada me fez tão bem quanto me internar. Acho que meu CD4 baixo e minhas úlceras (ainda não tenho a biopsia para dizer ao certo o motivo médico)  foram o efeito do silêncio, do girino que engoli, que virou sapo e sapo dos grandes.

Maluca? Talvez! O fato é que esta internação me fez entrar em contato comigo mesma...TV, filmes, revistas, livros, nada.  Meu silêncio, dia após dia, meu contato comigo mesma, me mostraram a real causa de minha vida ter saído do prumo: o HIV? Não. O silêncio, o medo de "descobrirem", esta culpa de ser "portadora".

Que diferença fez! Numa boa? O primeiro grande preconceito a vencer era comigo mesma. Eu venci o meu, não me acho mais ingênua ou "louca" que nenhuma mulher que em alguma relação deixou para lá este objeto de plástico chamado camisinha! Por amor, bebedeira ou até por ignorãncia, por achar que nunca vai acontecer comigo.... (tolinha!)

A palavra HOSPITAL, internação  chama a atenção, parece que quando ela vem, vem toda a necessidade dos amigos aparecerem e te darem afeto e atenção. Então, fiz deste lugar meu santuário e desde o dia que me internei, jurei a mim mesma, que contaria a verdade (toda a verdade) a todos a aqueles que me viessem me visitar (não importa quem). O princípio da troca seria: aquela pessoa havia dado um pouco do seu tempo para mim e merecia: o meu cuidado, o meu alerta.

Medicamentos na veia, soro 24 horas, já não conseguia me alimentar. Foi bem difícil no início manter o prumo,mas 2 dias depois: quem sentia uma dor horrorosa ao engolir,  já não sente mais, quem estava apatica agora emana força.

Os enfermeiros comentam: "Menina, pelo menos  a sra contou pra gente, tanta gente que se interna e nega até a morte... se negam até a fazer o exame". A médica conta de casos de padres e homens casados...HIPOCRISIA!!!!!

Hoje, minha mãe esteve aqui. Nós não nos víamos há 5 anos, e sim, hoje, fiz questão que ela soubesse, fiz questão que ela soubesse por mim, me vendo bem, de mãos dadas com ela, 35% do peso recuperado, sem dor e comendo tranquilamente..... Radiante como estou : solar e positiva como sou e sempre fui.

Ela respirou fundo e me disse:" ai minha filha, pior se fosse um câncer... Eu nos anos 80 perdi amigos e soube de pessoas mas hoje, sei que é diferente, mas também não precisa contar pra ninguém né? " De repente quieta, de canto, ela começava a dar suas referências: Cazuza, Henfil, Philadelphia ( o filme do Tom Hanks ) e dizia... logo você, tão esperta, foi fazer esta burrada.....Meu irmão ( orgulho a cada minuto!) olhou bem pra cara dela e disse: mãe, hoje ninguém usa, você acha que eu uso com minha namorada?

Pois é, cada vez mais, cada momento, tenho a certeza que para toda quebra de paradigma há de existir uma cara a tapa, e assim, está a minha.






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